Grande apreensão de peixes ornamentais com espécies desconhecidas em Manaus.

A Polícia Federal realizou neste sábado (14/10)  uma grandee apreensão de peixes ornamentais, totalizando 672 espécimes no aeroporto de Manaus. O caso chamou a atenção pela quantidade recorde de espécies – sete ao todo, das quais uma está ameaçada de extinção e ao menos duas ainda não foram catalogadas pela ciência.

Os animais estavam dentro de dezenas de sacos plásticos que ocupavam três malas grandes. Com eles, foram presos o estudante Jhon Batalha Coelho, 23, e o técnico de segurança Leandro Martins dos Santos, 25. Os dois tentavam embarcar para Tabatinga (cidade amazonense na tríplice fronteira com o Peru e Colômbia).

De lá, provavelmente cruzariam a fronteira seca com a Colômbia, hoje a principal rota de contrabando de peixes ornamentais brasileiros, que têm grande mercado no Japão e em outros países ricos. Levados pelo Ibama para o Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), os peixes foram retirados dos sacos plásticos e reacomodados em grandes tanques. Muitos apresentavam escoriações pelo corpo. Duas arraias e alguns outros peixes menores morreram.

Segundo o analista do Ibama Daniel Abrahão, esta foi a maior apreensão registrada na Amazônia em relação à quantidade de espécies. “Isso indica que os traficantes estão contrabandeando cada vez mais a nossa fauna.” A soma das multas aplicadas aos dois pelo Ibama chega a R$ 3,04 milhões. Ambos foram autuados por crime ambiental e tentativa de contrabando, mas acabaram liberados na tarde deste domingo

De acordo com o delegado Wesley Aguiar, responsável pela apreensão, os dois eram mulas, em esquema semelhante ao do narcotráfico. Ele explicou que também devem ser indiciados pelo crime de receptação. A espécie mais valiosa é o Acari-zebra (Hypancistrus zebra), endêmico de um pequeno trecho do rio Xingu e sob ameaça crescente de extinção após ter seu habitat reduzido pela construção da usina de Belo Monte, em Altamira(PA).

Nos Estados Unidos, o preço por unidade gira em torno de R$ 1.100. Responsável pela custódia dos peixes, o pesquisador do Inpa Jansen Zuanon explicou que todos vieram da bacia do rio Xingu e que ao menos duas espécies ainda não foram descritas cientificamente e uma terceira espécie precisará passar por uma análise mais aprofundada.

Zuanon explicou que a situação que mais preocupa é a do acari-zebra. “A Belo Monte destruiu o principal habitat da espécie, e esse comércio clandestino aumenta a pressão do que sobrou dessa população.” O pesquisador afirma que um acordo com a Colômbia para proibir o comércio de acari-zebra diminuiria o contrabando. Ele também defende a instalação de pontos de inspeção nos aeroportos menores da Amazônia.

Fonte: Folha de São Paulo – “Mega-apreensão de peixes em Manaus tem até espécies desconhecidas”
Imagens: Policia Federal/Divulgação, Fabiano Maisonnave/Folhapress