Peixe adaptou-se para usar as variações bruscas de açúcar no sangue para sobreviver nas cavernas.

Astyanax mexicanus, um peixe tetra cego das cavernas do México teve de se adaptar para sobreviver ao ambiente extremo das cavernas. Seu habitat totalmente sem luz não possui algas ou plantas e seu alimento é escasso, apenas alguns insetos, pequenos crustáceos, detritos e matéria orgânica trazidos nas épocas de cheias. Para sobreviver a essa dieta de fome este peixe utiliza dos sintomas da diabetes para ganhar peso.

Astyanax mexicanus Peixe cego imune à diabetes pode ajudar humanos

Astyanax mexicanus (© H. Zell)

A diabetes tipo 2 nos humanos e mamíferos acontece em uma abordagem simples, quando as células do corpo se tornam resistentes ao hormônio insulina, responsável por permitir que o açúcar sanguíneo entre nas células para ser utilizado como fonte de energia. Portanto os níveis de glicose no sangue se tornam extremamente altos e dentro das células há falta de açúcar, o que em uma pessoa doente causa falência nos órgãos, danos neurológicos, diversos problemas vasculares e cardíacos. Porém este incrível peixe cego das cavernas evoluiu para ser imune a insulina, resistir aos seus danos e usar isso para ganhar peso e resistir a fome. Além disso, foi encontrado também um gene neste peixe que o deixa com apetite insaciável, assim nunca para de comer, provavelmente para acumular gordura para épocas de pouca comida.

O tetra mexicano, Astyanax mexicanus, é composto por duas diferentes populações, os habitantes da superfície com acesso a comida, de aparência normal, e os habitantes das cavernas, cegos, sem pigmentos de cor e com a mutação genética que os da imunidade a insulina e os ajuda a resistir longos períodos de fome. Foi observado que o habitante das cavernas perde muito menos peso do que seu irmão da superfície.

Acima um exemplar da superfície e abaixo um exemplar das cavernas.

Acima um exemplar da superfície e abaixo um exemplar das cavernas. (© Riddle et al./Nature)

Analisando seus órgãos notaram que o fígado deste peixe é gorduroso, sintoma comum em pessoas diabéticas, porém não apresentava mal funcionamento. Logo os cientistas descobriram que seu metabolismo age exatamente como de um diabético tipo 2, resistente a insulina, porém ao invés de perder gordura corporal e emagrecer ele ganha peso mais facilmente e suas células não são danificadas pelos altos níveis de açúcar no sangue.

Esses resultados podem indicar que os tetras cegos das cavernas desenvolveram meios compensatórios que os tornam imunes aos males da diabetes, portanto estudar este peixe e esses meios de contornar os danos causados pela doença é muito importante e promissor.

Mais informações em: http://dx.doi.org/10.1038/nature26136 e complemento por Misty R. Riddle, Ariel C. Aspiras, Karin Gaudenz, Robert Peuß, Jenny Y. Sung, Brian Martineau, Megan Peavey, Andrew C. Box, Julius A. Tabin, Suzanne McGaugh, Richard Borowsky, Clifford J. Tabin e Nicolas Rohner.