Artigo enviado por Edison de Freitas, Biólogo do departamento comercial da Cubos.

Há uma época no ano em que grande quantidade de casos de nishikigois doentes surgem. Muitas vezes ouvimos dizer que o peixe tem a famosa doença da primavera! Mas afinal, o que é isso? Esta doença teve seus primeiros indícios na Europa medieval  e na China, atormenta nossos amados peixes até os dias de hoje, na passagem dos meses mais frios do ano. Muitas vezes encontramos os peixes debilitados e não sabemos o que causou a doença e nem como proceder nestes casos. O objetivo deste artigo é tratar deste assunto tão famigerado e ao mesmo tempo obscuro para quem possui um lago ornamental.

Créditos: Susan Ford Collins/Flickr

O que é?

Com altíssima mortalidade, até 90%, a Viremia Primaveril da Carpa (VPC) é uma doença ocasionada pelo vírus Rhabdovirus carpio, e ataca principalmente espécies da família Ciprinidae (Ahne et al. 2002). Os dois maiores produtos da piscicultura nacional de peixes ornamentais são animais que pertencem a este grupo, a carpa (Cyprinus carpio) e o kinguio (Carassius auratus), e podem ser infectados pelo vírus. Esta doença é altamente influenciada pela temperatura e não havia sido reportada em climas tropicais até a década de 90, no Brasil (Alexandrino et al. 1998). A VPC geralmente é contraída pela entrada do vírus pelas brânquias ou parasitas e pode infectar animais em todas as idades, no entanto ataca principalmente peixes jovens. O vírus é contraído diretamente na água e pode ter como vetores artrópodes (parasitas) e aves que se alimentam de peixes (Ahne et al. 2002). Não apresenta riscos a humanos.

Diagnóstico

Mortes podem ser esperadas em águas com temperatura abaixo de 20°C. Os sinais clínicos mais evidentes são distensão abdominal, respiração lenta, brânquias pálidas e movimentos anormais de natação. Os peixes apresentam hemorragia interna e na pele (Ahne et al. 2002; Nunes 2007). Devido à possível contaminação secundária por bactérias, a VPC é facilmente confundida com outros tipos de doenças, menos mortais e facilmente tratáveis.

No exame externo pode ser observado: escurecimento da pele, abaulamento do ventre, exoftalmia, petéquias hemorrágicas, palidez das brânquias, edema/avermelhamento e prolapso do ânus.

Fonte: Dr. Rodrigo Gasparoto

Fonte: Dr. Rodrigo Gasparoto

No exame interno observa-se edema dos órgãos internos, hemorragias, enterite e peritonite. Há presença de líquido translúcido na cavidade peritoneal que pode aparecer avermelhado devido á hemorragias.

Fonte: Dr. Rodrigo Gasparoto

Transmissão

A VPC é transmitida horizontalmente, mas a transmissão vertical é aceita uma vez que o vírus é encontrado nos fluidos ovarianos. O vírus eliminado pelas fezes,urina e brânquias. O peixe infecta-se pela via digestiva, ou vetores (Argulos e Sanguessugas).

Fonte: Dr. Rodrigo Gasparoto

Prevenção

Verificar a procedência dos peixes, certificação sanitária, quarentena, rações de qualidade superior e com níveis adequados de vitamina C e o monitoramento dos parâmetros da água (manter baixo os níveis de amônia não ionizada no ambiente aquático).

Desinfecção de tanques caso haja incidência, suplementos alimentares a base de algas marinhas: Laminaria digitata e Ascophyllum nodosum.

Profilaxia e tratamento

Temperaturas acima de 20°C asseguram uma atividade metabólica dos animais que permite a produção de níveis adequados de anticorpos, impedindo o estabelecimento do vírus. Uma quarentena, a fim de evitar a introdução do R. carpiono no lago, deve ser usada sempre que um novo animal for adquirido. Manter a boa qualidade da água, utilizando filtragem, práticas de alimentação e manejo corretos, é primordial para não debilitar a imunidade dos peixes, evitando a doença. Não há tratamento efetivo até o momento (Ahne et al. 2002; Nunes 2007).

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Referências bibliográficas
1. Ahne, W.; Bjorklund, H. V.; Essbaur, S.; Fijan, N.; Kurath, G.; Winton, J. R. 2002. Spring viremia of carp (SVC). Diseases of Aquatic Organisms 52: 261-272.
2. Alexandrino, A. C.; Ranzani-Paiva, M. J. T.; Romano, L. A. 1998. Identificación de Viremia Primaveral de la Carpa (VPC) Carassius auratus em San Pablo, Brasil. Revista Ceres 45(258): 125-137.
3. Nunes, B. G. 2007. Enfermidades dos peixes. Monografia pós-graduação Lato Sensu Universidade Castelo Branco.
4. “Sanidade de Peixes Ornamentais” por Rodrigo Gasparoto Mabilia, Médico Veterinário/CRMV-SC 3628