Aquário de visitação é um local não apenas para o prazer humano, vai muito além disto.

Na atualidade, pensar no uso de animais, principalmente um Aquário de visitação, inclusive para fins científicos, é um assunto sério, tanto que o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, através do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal, publica e faz cumprir a Diretriz Brasileira para o Cuidado e a utilização de Animais para fins científicos e didáticos – DBCA. Pensando macroscopicamente essa diretriz vem apenas reafirmar o que o comportamento de um cidadão digno deve cumprir, utilizar os animais para fins justificados, além do que garantir o bem estar desses animais enquanto vivos.

(Imagem via Karkera)

Os AQUÁRIOS, sejam aqueles domiciliares ou aqueles para visitação (públicos ou privados), estão no escopo da preocupação com os animais, principalmente os relacionados à água. Segundo a Associação Internacional de Zoológicos e Aquários (World Associationof Zoos and Aquariums), os aquários e zoológicos são instituições sérias e respeitadas que fazem contribuições significativas e tomam decisões importantes em relação à vida selvagem em todo o mundo. Mesmo sob a ótica da tendência protecionista (Leite, 2011), a aquicultura ornamental, ou seja, a produção em cativeiro de organismos ornamentais, entre eles os peixes, que em grande parte fornece animais para os aquários, remete para a total sustentabilidade do segmento, no sentido ambiental, social e econômico, inclusive sendo apontada como uma tendência mundial para a educação ambiental pela FAO (Food and Agriculture Organization). No Japão, ainda no século passado, já se utilizava os aquários para sensibilizar as crianças sobre o cuidado para com o ambiente natural, utilizando-se de protoexperiências¹ para desenvolver nas crianças maior consciência ambiental sustentável.

No Brasil, bem recentemente, os aquários vem sendo usados como ferramentas para sensibilizar as pessoas, mantê-las calmas, entrar em estado de alívio e distração (Dotti, 2014), mas no nosso entender também podem motivar os/as alunos/as para os processo de ensino e aprendizagem, aumentar os seus conhecimentos e contribuir para a compreensão da dinâmica de ambientes com as ações humanas, já comprovado em estudos (Barreto, no prelo). São dezenas de estudos ao redor do mundo (e.g.: Katchera, Segal e Becka, 1984; Falk e Dierking, 1998; Edwards e Beck, 2002; Packer e Ballantyne, 2002, 2004, 2010; Penning et al., 2009; Kisiel, 2010; Martins, Balbini e Stanquini, 2014; Dotti, 2014) que mostram os benefícios dos aquários para a educação.

“Minha filha recebeu uma tarefa sobre PRESERVAÇÃO, depois de terminar pediu para eu poder ler, e para minha surpresa e felicidade, olhem só o que ela escreveu.” (Imagem publicada por Kal Mota no grupo Plantas & Plantados no Facebook)

Mesmo com todo esse empenho e comprovação, ainda há os que são contra a utilização dos animais, que os preferem “soltos na natureza”. Assim desejamos brevemente levantar algumas questões norteadoras:

Não somos os donos da verdade, mas gostamos sempre de ponderar todos os lados da moeda, principalmente como defensores da verdade perante o aquarismo da forma como ele deva ser praticado

Os aquários estão servindo para o papel a que se destinam?

Sabemos de aquaristas, lojistas e, porque não, aquários para visitação que falham com o boa prática do aquarismo, seja na manutenção, seja na alimentação balanceada, seja no bem estar do animal, mas pensar assim não retira o mérito de tantos outros (milhões até) que praticam de forma consciente e promotora de todos os benefícios que a prática traz.

Seguem dois exemplos distintos e opostos: Oceanário de Lisboa vs Zoológico de Salvador (sob protesto de um aquarista)

É certo o justo pagar pelo pecador? Assim dizendo, é justo afirmar que todo e qualquer aquário prejudica a vida do animal?

Ouvimos e vimos recentemente protestos contra o AquaRio (Rio de Janeiro), publicitado no Facebook, onde afirmavam veementemente que o confinamento dos peixes não é prática educativa. Mas vejamos, não é o confinamento que educa, é o resultado desse confinamento através da educação que, num futuro breve, tornará o visitante um melhor cidadão através da sensibilização e conhecimento.

Texto (abaixo) e imagem extraída do perfil pessoal do Marcelo Szpilman (diretor-presidente do Aquário Marinho do Rio (AquaRio)

“Manifestação “AquaRio Nós Acabamos Indo”

“No dia da abertura do AquaRio (09/nov), na porta do boulevard, tivemos, além do homem-aranha e do saci perere, a presença recorde de meia dúzia de ativistas com já batida manifestação autodenominada “AquaRio Eu Não Vou”.

Como ninguém é de ferro, quatro delas não resistiram à atmosfera mais do que agradável do nosso lobby e, após levantar seus cartazes do lado de fora (foto à esquerda), decidiram entrar, sentar em uma das mesas para conversar e curtir o ar condicionado (foto acima).”

Já comentamos acima inúmeros estudos que provam que o contato com os animais, conhecê-los, promove a consciência sobre o cuidado para com esses e o ambiente onde esses habitam.

Será que essas mesmas pessoas lutam contra o maior vilão do meio ambiente, principalmente o aquático? A nossa poluição!

O valor investido poderia ser aplicado em saúde?

Vejamos novamente, é comprovado que grande parte dos problemas de saúde no Brasil são veiculados através da água, seja a potável ou mesmo a de uso (rio, lagoas, baías, mares), além do que através de alimentos contaminados pela água. Ora bem, então investir apenas no tratamento da consequência das doenças, ou seja, aumentando o número de hospitais (por exemplo), seria mais importante do que investir na resolução da causa desses problemas, alcançando um meio ambiente mais limpo?

Nomeadamente através de um cidadão mais consciente com seu próprio comportamento (na sua produção de lixo; no seu cuidado com as nascentes, estuários, praias; no seu cuidado para com os animais silvestres e seu ambiente)

  • Os argumentos dos ecoxiitas (sabiam que já foram contra, inclusive, a utilização de células-tronco?) são falhos neles mesmos.
  • Já se perguntaram se os que levantam a bandeira do ecologismo são detentores de práticas ditas ecologicamente corretas?
  • Será que são cidadãos exemplo e que ainda assim são terminantemente contrários ao progresso?
  • Será que têm a mesma energia para, no seio familiar, cultivar o que puder em uma horta caseira?
  • Preferir produtos ecologicamente corretos ou com selo verde, mesmo às vezes sendo mais caros?
  • Economizar energia elétrica e água? Vão de bicicleta para o trabalho? Diminuem seu consumo atrás de um computador?
  • Deixam de tomar o refrigerante de marca, que no próprio protesto acusam?

Só se preserva aquilo que se conhece! – Jacques Cousteau

Será mesmo que eles acreditam que apenas “deixando os peixes no mar, onde é o lugar deles” o mundo se salvará, afogando-se assim em ignorância sobre a biologia das espécies, sem compreender seus comportamentos (alimentar, reprodutivo, etc.), voltando à era em que o conhecimento sobre os seres aquáticos se sustentava em AqViews verticais e mal compreendidos?

Será mesmo que essa é a bandeira da paz para a humanidade?

Não acreditamos. Acreditamos, sim, que o aquarismo praticado da forma correta leva a muito mais benefícios que malefícios; e não só para humanos, mas também para os animais. Já pensaram que analogicamente os peixes têm todas as condições ideias para vida (e até sobrevida) nos aquários? Enfim… passemos par ao ponto dois, que já começamos a discutir.

Aquário Marinho do Rio de Janeiro (Créditos Marcelo Szpilman)

Talvez…. apenas talvez, o que passa na cabeça das pessoas que são contra investimentos como o AquaRio seja que a irresponsabilidade vista em diversos campos políticos no Brasil possa se estender a todos. E nisso talvez mereçam que nós o compreendamos, porque não é fácil acreditar que ações em prol do desenvolvimento sustentável de uma cidade ou estado não esteja concatenada com o enriquecimento ilícito ou com jogatinas políticas, o que se estende até ao privado. Mas por outro lado, como diz Vinício de Moraes, “Não há mal pior que a descrença, mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão”. O que nos dá esperança (e quem é aquarista sabe) é que o que move em grande parte o aquarismo, seja na sala de casa, seja em grandes investimentos como aquários públicos ou privados, é o amor que temos para com os organismos aquáticos e para com o ambiente que os/nos cerca.

(Créditos Aquário Marinho do Rio de Janeiro/Facebook)

Segundo o próprio Aquário Marinho do Rio de Janeiro, “o projeto desponta como um importante instrumento de Educação, Conservação e Pesquisa. É na visita que crianças e adultos aprendem e trocam informações sobre a vida marinha. No laboratório, já estão sendo desenvolvidas pesquisas em parceria com a UFRJ. Isto sem falar que o AquaRio é o único aquário do mundo que foi concebido para possibilitar a captação de desova espontânea de peixes e a reprodução em cativeiro de espécies atualmente ameaçadas de extinção.

Levante o dedo o aquarista que não se enfurece vendo uma praia suja?

Um rio poluído?

Uma baía apodrecendo (como a de Guanabara)?

(Créditos Jornal do Brasil/Youtube))

Agora vir nos dizer que se pegar os milhões do AquaRio para limpar a Baía de Guanabara resolverá o problema de poluição definitivamente, creio que até nós mudaríamos de opinião. Mas esse não é o cerne da questão, mas sim a educação, ambiental inclusive, a qual os AQUÁRIOS são grande promotores de melhoria. Poderíamos escrever aqui centenas de páginas discutindo os prós dos aquários públicos ou privados, agora discutir argumentos fundados em pensamentos distanciados da solução das questões ambientais a longo prazo, nem mesmo o Das Buch des dickste Universums, com suas mais de 50 mil páginas poderia argumentar.

Assim, concluindo, somos à favor do aquarismo como ferramenta promotora de melhor saúde mental, saúde ambiental, cidadania e porque não, melhor educação para a sustentabilidade, em todas suas vertentes!?

[1] Experimentos o qual usa os sentidos (visão, olfato, audição, paladar e tato) para desenvolver nos/nas alunos/as a percepção educativa da importância desses seres, necessária para futuras ações em prol da sustentabilidade (Kobayashi, 1991).