Protozoários intestinais nos peixes ornamentais é mais comum do que você imaginava, confira.

É muito comum ouvir falar de casos de peixes com fezes gelatinosas, o diagnóstico mais comum é “vermes intestinais, tem que tratar com Flagyl”. Bom, na imensa maioria dos casos, não se trata de vermes e não, o Flagyl ou o metronidazol (seu princípio ativo) não atingem vermes. O agente causador dessa doença é na verdade pode ser  protozoários intestinais.

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Acará-disco com Hexamita recebendo flubendazol (Créditos Discusroquetas/Youtube)

O que é um protozoário?

Protozoários são seres muito pequenos, nem sempre microscópicos (alguns são grandes o bastante para serem vistos a olho nu), são unicelulares, ou seja, formados por uma única célula. A diferença entre protozoários, bactérias e animais microscópicos não é o tamanho, por incrível que pareça, existem animais menores que alguns protozoários. A diferença entre eles é que animais são formados por mais de uma célula e as bactérias não tem núcleo condensado (pode ser observado isso em microscópio).

Eles possuem uma enorme diversidade de formas e hábitos, existem espécies que se alimentam de material orgânico morto, como os paramécios, outras são predadoras terríveis como as amebas, outras podem produzir seu próprio alimento através de fotossíntese (pois é você achava que apenas plantas tinham clorofila né?), mas se faltar luz, esse ser se torna um predador, devorando outros protozoários, seu nome é Euglena.

O que é um protozoário?

O que é um protozoário? (créditos Cecilia Soares)

Mas o que nos interessa são as formas parasitas e elas são muitas, os protozoários evoluíram muito e se tornaram em muitos casos as “parasitas perfeitas”, retiram aquilo que precisam de seu hospedeiro para viver e se reproduzir sem causar grandes danos a este, vivendo em relativa harmonia sem lhe causar uma doença. Não pensem que estamos livres deles, o parasita com maior distribuição no mundo adivinhem quem é…. Um protozoário, o Toxoplasma gondii, causador da toxoplasmose, estima-se que mais da metade da população mundial tenha esse parasita vivendo em seu sangue, até você que lê esse artigo agora pode tê-los dentro de você.

Protozoário nos peixes

Voltando aos peixes, devido a essa enorme variedade de espécies, existem vários níveis de dificuldade em seu tratamento, em nossos aquários, a maioria das doenças é causada por eles.
Ictio, Cóstia, Oodinium, Buraco na cabeça, Pop eye, Duck Lips entre várias outras. Em sua maioria, esses parasitas são eliminados por produtos de fácil obtenção, comprados em lojas de aquários, mas outros não simples de eliminar, eles evoluíram e conseguem resistir e burlar esses medicamentos, em alguns casos sendo virtualmente imortais.

Um exemplo disso é um grupo de parasitas conhecidos como Cryptosporidium, uma praga muito temida por criadores de répteis. A grande dificuldade de combater esse parasita é o local onde ele vive, entre o citoplasma e a membrana da célula hospedeira. Com isso não é morto nem por medicamentos que agem por fora, pois está abaixo da membrana, mas como não está dentro do citoplasma, também não pode ser morto por medicamentos que entram na célula.O que costuma ser feito por criadores ao detectar essa doença em seu plantel é sacrificar todo o lote, já que não existe tratamento para essa doença que leva às vezes anos para se manifestar e é altamente contagiosa, capaz de dizimar criações inteiras.

Tratamento

No caso dos peixes, a imensa maioria dos problemas intestinais é causado por protozoários de uma família, a Hexamitidae, em especial os gêneros, Spironucleus e Hexamita. Tanto faz o gênero, o tratamento para ambos é o mesmo.

Medicação

Metronidazol a 8mg por litro a cada 48horas com TPA de 20% antes de cada nova dose por pelo menos dez dias. Existem no mercado medicamentos que também combatem esses parasitas, infelizmente todos eles só são vendidos pela internet, já que devido as nossas leis medievais, o comercio deles é proibido. São eles: Worm Destroyer, Anti-endo da Azoo, Flagelol da SERA.

Metronidazol

Metronidazol (Créditos Mdsaude)

O tratamento sempre deve ser feito diretamente no aquário principal, por ser um parasita que pode habitar um peixe sem manifestar sintomas, ao separar e tratar apenas o peixe que tem aparência de doente você está deixando mais parasitas no seu aquário, ao voltar o peixe já curado ao aquário, ele volta a apresentar a doença algum tempo depois porque o parasita ainda está lá.

Prevenção

A forma de prevenir essa e outras doenças é fazer quarentena ativa de todos os novos peixes que entram no aquário. Uma coisa muito importante e que pouca gente sabe a respeito dessa doença, um peixe saudável consegue conviver bem com esses parasitas, seu sistema imunológico consegue combate-los e manter sua população sob controle, o problema aparece quando por alguma razão ele fica debilitado, isso pode acontecer por conta de parâmetros inadequados, seja aquele pH muito baixo, amônia e/ou nitrito presentes de forma crônica (não alto mas constante), seja por falta de vitaminas ou minerais.

Ou seja, peixes saudáveis dificilmente irão adoecer por conta desses parasitas, por isso é muito importante manter parâmetros adequados da água e sempre fazer suplementação de vitaminas e minerais para nossos peixes. Nem sempre aquele peixe ativo e comendo bem é completamente saudável, muitas vezes só percebemos que há algo de errado quando o problema já está instalado.

Como resolver isso? TPAs semanais de pelo menos 20% religiosamente, suplementar minerais nessa água (recomendo o Tropic Marin Pro Discus Mineral), além do uso de vitaminas na água e no alimento semanalmente. A alimentação é muito importante para prevenir esses problemas, uma alimentação balanceada e variada faz a diferença na qualidade e tempo de vida dos peixes.

Sobre o autor: Renato Moterani, trabalha no instituto do Butantan, aquarista desde dos oito anos de idade, especialista em jumbos há mais de 30 anos e administra o grupo Peixe Grande.