A pouco recebemos uma carta de um amigo relacionada a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte e resolvemos publicar na integra.
O texto é um pouco extenso mas vale a pena ler, segue a carta.

Antes gostaríamos de agradecer ao nosso colega Michael Moura por nos ter enviado, muito obrigado!
rio-xingu-H-Monte-Belo
– VOCÊ CONCORDA COM ISTO? ENTÃO FAÇA ALGO!!!!
MORTE E VIDA NO XINGÚ
               Um apelo à consciência global responsável acerca da preservação /destruição da natureza tem sido ponto comum no discurso de muitos países. A sustentabilidade X preservação tem sido um quociente difícil de se parear quando observamos um mundo regido pelo capitalismo: consumista, devassador e exclusivista. A “fala” dos líderes mundiais da atualidade não é párea com a realidade, quando observamos o modo como o homem tem “tratado” este ser vivo: o organismo Terra.
               Apesar deste quadro, a preservação ambiental e a substituição de práticas associadas à degradação da Natureza por ações sustentáveis têm sido tomadas por países que realmente “fazem seu dever de casa”.
               Fukushima no Japão foi, ao um ver, a gota d`água para que o governo Alemão decidisse pela erradicação do uso da fonte de energia nuclear que possuem. Segundo foi divulgado mundialmente, a Alemanha irá, nos próximos anos, desativar seus geradores nucleares e desconstruir suas usinas. A palavra de ordem lá é energia limpa e sustentável.
          O Japão, após o ocorrido há pouco nesta ultima catástrofe geológica e radioativa, também demonstra claras pretensões em abandonar fontes de energia associadas à energia nuclear.
               Uma parte dos países que concentram a geração de energia elétrica em usinas termoelétricas, com base em derivados do petróleo e/ou minério, têm adotado uma postura contrária, indicando uma busca por tendências sustentáveis quando o assunto é produção de energia. Outras vias como a eólica, a solar, e até a energia gerada através do movimento das marés e ondas e a gerada com a movimentação de carros em autoestradas vêm sendo alvo de maiores investimentos e aplicabilidade por parte países da “frente ecológica”.
               Aí, vem o Brasil! Expoente do mundo quando o assunto é natureza; detentor da maior parcela de Amazônia em seu território quando parado com os outros países componentes deste gigantesco ecossistema; legislador de rigorosíssimos códigos de normas e condutas ambientais; o “pulmão do mundo”!!! Nesta “luta global” pela diminuição do aquecimento no planeta, nosso Brasil resolve criar a terceira maior usina hidrelétrica do mundo: A Usina de Belo Monte em Altamira no Pará. Quem tiver interesse em especificações técnicas, dimensões e etc…, basta digitar o nome da Usina no Google que terá todas as informações que necessita. Eu já pesquisei e estou aqui para dizer-lhes o “Belo Monte de Bosta” que esta usina é. (desculpando-me por atrelar tanto minha escrita à realidade!!!)
               Sob o eterno paradigma do “já está ali, vamos usar”, o Governo Brasileiro investe em usinas que utilizam a facilidade dos acidentes de relevo presentes em nosso país para criar a geração de energia via movimentação das águas. Entretanto, todos sabem que, se por um lado esta geração de energia não polui diretamente e é operacionalmente barata, ela acaba com o ecossistema da região onde é instalada, desconfigurando e descaracterizando este local por completo.  Fauna, flora, e até o relevo são influenciados por esta enorme obra. À partir do início da obra, tudo será mudado.
               Lembro-me de uma reportagem que vi, realizada com um pescador ribeirinho pela Rede Record, às margens do Rio São Francisco, onde entrevistado sobre as benfeitorias trazidas pela Usina Hidrelétrica há anos ali instalada, não me lembro qual cidade, o pescador disse: “faz mais de sete anos que esta usina ta aqui. Hoje eu não consigo mais pegar peixe grande. Rareou o peixe. Só tem mesmo peixe que fica por aqui, em ribeira. Os grandes morreram, ou não voltam mais. É por que acabou a piracema. Não tem mais. Agora eu só tenho farinha seca. Não tenho nada pra comer. Devo ter de ir embora por que aqui não tem mais nada pra mim. Eu não como luz!”.
               Continuando, esta mega usina é uma lástima, um retrocesso de nosso governo. Ela vem para descaracterizar uma região já por demais devastada. Não é segredo para ninguém que a região do Pará banhada pelo Rio Xingú é uma região já com alta taxa demográfica quando comparada com outras regiões do Norte do Brasil, e por demais assolada pelo desmatamento e poluição.
               Vamos pormenorizar um pouco sobre o Rio Xingú. Lá está sendo construída esta usina. (mesmo com muitos processos de embargo estando em trâmite legal como o do Ministério Público do Estado do Pará e o da Assosicação de Pescadores e Piabeiros de Altamira). Esta usina, de tão grande, terá duas bases de geração de enrgia, com enormes turbinas. Este sistema não criará um lago artificial, e sim lagos artificiais, acabando com toda a possibilidade de passagem de peixes (piracema). A seleção natural (ou confinamento natural) selecionará “à força” os peixes que serão espécies presentes nos novos biótopos, priorizando como sempre os animais mais adaptados para predação e altas profundidades.
               No que destrói nossos corações com maior afinco, o Aquarismo deverá velar luto quando este gigante acordar. Um piabeiro conhecido meu, buscando me aclamar sobre esta situação, falou assim: “mas você acha que os peixes de aquário irão acabar no Xingú? Não vão não. Eles existem em milhões e nunca irão acabar! Pode sumir um peixe grande ou outro por que a água vai baixar, mas de aquário não vai não”. Suponhamos que esta frágil certeza deste homem seja plena verdade. E o restante? Como que os verdadeiros povos da floresta; índios que habitam a região da Volta Grande que realmente ainda cultuam suas crenças tribais e línguas, bem com costumes e tradições da etnia? Viverão do que? Beberão o que?  Os animais, tanto da fauna aquática como não-aquática? Será válido acabarmos com certas espécies de animais pela busca desenfreada por energia elétrica?
               Sobre a real eficácia deste colosso, pensemos: como esta Usina pretende ser a terceira maior geradora se terá que submeter-se durante pelo menos oito meses do ano ao sistema de seca no ciclo de chuvas presente na Amazônia? De um rio que estará com um terço a menos de água na maior parte do ano? De uma obra que deixará, quando em funcionamento, apenas um terço da vazante original do rio num trecho do Xingú chamado de Volta Grande, o qual possui somente em seu trecho, já catalogados e cientificamente registrados, três vezes mais espécies de peixes que em toda a Europa? Além disso, vocês sabiam que a população da cidade de Altamira possui estimativa de triplicar até o final da obra, causando ainda mais impacto no ecossistema lá já degradado? Sem falar que diversas questões já vêm sendo levantadas pela Procuradoria Geral da União quanto a operações escusas, no tocante ao dinheiro que vem sendo empregado nesta obra (que, a meu ver, só pelo fato de possuir ações de embargo tramitando é ilegal!)?
               Não é uma questão de ser aquarista, ou biólogo, ou pesquisador. Não é questão de ser brasileiro, e nem de ser amante da natureza. É questão de não concordar com uma coisa oligofrênica! Um gasto horrendo de dinheiro público por uma obra que traz muito mais revés que bônus. Que possui um licenciamento ambiental totalmente descabido, e que não considera a opinião dos reais donos daquelas terras: Os índios que lá habitam, e todos os brasileiros que se importam por um amanhã verde e vivo!
                                    NÃO À USINA DE BELO MONTE!!!!!
          NÃO ÀS VIAS DE GERAÇÃO DE ENERGIA ECOLOGICAMENTE INCORRETAS!!!!          
                                NÃO À DESTRUIÇÃO DA AMAZÔNIA!!!
                     NÃO À OCUPAÇÃO DESENFREADA DA FLORESTA!!!!
      MOBILIZE-SE E FAÇAM ALGUMA COISA, POIS VOCÊ TAMBÉM É RESPONSÁVEL!!!!
Por:
Michael Moura
Psicólogo, Pesquisador e Músico

Email: michaelmoura2009@hotmail.com